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Metafísica de Aristóteles, Incompleto, Autor Jonathan Barnes.

(PESSOAL, DESCULPA. ESTOU NUM PC QUE NÃO ENTRA USB. PRECISO DESSE TRABALHO E NÃO É POSSÍVEL ENVIAR EMAIL, TENHO PROVA HOJE E AINDA PRECISO TERMINAR ESSE TRABALHO PRA HOJE. PRECISAVA DE UM ESPAÇO. OBRIGADO. RETIRO AINDA HOJE.)

Metafísica de Aristóteles?
Debruçando-se sobre essa questão¹ é que Jonathan Barnes nos introduz aos quatorzes livros da Obra Categorias, onde podemos verificar as proximidades do pensamento com o que hoje classificamos como “metafísica”.
Não tendo Aristóteles objetivado ingressar no estudo da metafísica, pois a existência do próprio termo veio à posteriori, o autor abre a questão expondo, apesar da verdadeira mixórdia de conteúdo, forma e complexidade, os princípios e conceitos fundamentais que serão abordados no restante do capítulo.
A ordem dos livros compilados, provavelmente por Andrônico, segue:
Alfa, Alfa menor, Beta, Gama, Delta, Épslon, Zeta, Eta, Teta, Iota, Capa, Lambda, Mi e Ni.
Pouco parece ser a coesão do conjunto da Obra, e também por isso há livros (Alfa menor, Beta, Mi e Ni) que pouco se extrai em conclusão final ou continuação/finalização de outro, ou outros, livros. Capa é tão destoante dos demais que sequer é considerado ter sido escrito por Aristóteles. Entretanto, é nos livros Alfa, Gama, Épslon e Zeta que se concentram as questões mais profundas e relevantes para este autor.
É a partir dessa introdução sobre o conteúdo dos livros, as suas contradições e perplexidades, que iremos desatar e compreender os pontos que embasam o que chamamos de “Metafísica de Aristóteles”.
Dentre os assuntos destacados como de maior relevância nos escritos, podemos identificar 4 estudos que, ao passo em que nos dão alguma luz também nos inquietam com inconsistências e controvérsias. De forma que para saná-los é preciso esclarecê-los. A saber:
A ciência dos princípios primeiros (Alfa); O estudo do ser enquanto ser (Gama); Teologia (Épslon); A investigação da substância (Zeta).
Do Estudo do Ente Enquanto Ente –
“Há uma ciência que investiga o ente enquanto ente e os atributos que convêm a ele em virtude de sua própria natureza. Isso não é o mesmo que qualquer uma das assim chamadas ciências especiais; pois nenhuma delas lida de maneira geral com o ente enquanto ente – antes, cada uma recorta uma parte do ser e investiga os atributos dessa parte (isso é, por exemplo, o que as ciências matemáticas fazem).”
A ciência aqui tratada, geral ou universal, lida com os entes em geral. Trazendo a conotação “existir” ao verbo “ser”. Diferente da Geometria que estuda os objetos físicos enquanto sólidos tridimensionais, destacamos em nossa ciência o estudo dos entes na medida em que existem, enquanto existem. Sendo importante ressaltar que “enquanto ente” não modifica o substantivo “ente”, porém determina o modo de investigação em como as entidades devem ser investigadas. Nesse sentido, os metafísicos ao estudarem o “ente enquanto ente”, consideram as entidades em geral – tudo o que existe – como seu domínio e concentram-se no fato de que os itens no interior do domínio existem. Ou seja, estudar os atributos que convêm às entidades em virtude do fato de que elas são entidades.
Dado que “tudo que existe” é uma coisa e nossa ciência trata da noção de unidade (conceito representado no livro Iota), é devido que nós discutamos as questões intrínsecas que há dentro deste “todo”. Portanto a pluralidade, alteridade a diferença e a contrariedade.
Por se ocupar de estudos sobre conceitos e verdades gerais e universais de todo e qualquer assunto, a metafísica, como o livro Gama a descreve, é lógica. Apesar das dúvidas que podem surgir a respeito dessa caracterização, o autor sugere não nos prendermos ao ponto, uma vez que temos apreensão satisfatória de como seria a ciência do ente enquanto ente.
Da Existência –
Ao início do tópico, vemos que “Não é possível que a unidade ou a existência constituam um gênero de coisas; pois as diferenças de qualquer têm, cada uma delas, de existir e ser uma, e é impossível que um gênero seja predicado de suas diferenças”. Portanto, se tudo é um e tudo não possui um gênero específico ao qual lhe diferencie do restante (uma ciência específica), não é então possível um “estudo de todas as coisas”. Não é lógico dizer que “Tudo é F”, “algumas coisas são G”. Ou “Tudo é um”, “algumas coisas não”.
Pode parecer confuso (e é!), porém é sábio notar a sensibilidade de Aristóteles para Homonímias, sinônimos e parônimos. Esses conceitos não finalizam a compreensão do assunto, porém é sabido nas diversas obras de Aristóteles que sua preocupação com a interpretação da palavra era vital para o entendimento de seus escritos e de diversos autores da época. Não raro, era possível vê-lo desqualificando observações filosóficas por estas não captarem o sentido daquilo que estava sendo dito.
Ser, existir, causa, efeito... São palavras que geram conceitos rápidos em nosso modo de pensar, pela proximidade que temos com ela em nosso dia-a-dia. Entretanto, apesar de suas aplicações parecerem ambíguas (pois podem ser usados de diferentes formas), elas expressam um significado único que está diretamente atrelado ao domínio do assunto. É a partir do que se está dizendo, que atribuímos uma palavra-sentido aos substantivos. O que está envolvido em X ser a causa de Y pode ser diferente do que envolve Z ser a causa de W, podendo X ser a causa que produziu Y e Z o material do qual W é feito.
A homonímia que nos diz respeito é explicada no trecho do livro Zeta:
“Diz-se que as coisas são de muitas maneiras, como eu disse anteriormente em minhas observações sobre a homonímia: ser significa o que uma coisa é (isto é, este tal-e-tal), e qualidade e quantidade e cada uma das coisas predicadas dessa maneira.”
Para esta explicação, Jonathan Barnes nos remete a alguns exemplos como “gatos/cores”, “chaves”, “cães” e atribui sentido aos parônimos. Porém é no exemplo com a palavra “saudável” que o autor melhor exemplifica o que foi tratado até aqui. Um atleta, um esporte, uma compleição e uma dieta podem ser convenientemente chamados de “saudáveis”. Os conceitos de “saudável” não estão de todo dissociados nas diferentes aplicações, entretanto a condição que torna o objeto (domínio) associado ao conceito de saudável é diferente para cada caso.
É através da explanação moderna de significado focal (palavra utilizada de várias maneiras, uma das quais é primária e as outras derivativas) que as palavras “ser” ou “existir” ganham forma. Pois apesar das distintas maneiras de se empregar a palavra existir, todos seus significados estão atrelados na medida em que todos eles estão conectados ao uso principal, focal. Essa concepção aristotélica de significado focal ganhou aclamada repercussão positiva. E é num outro exemplo magnífico que Jonathan estabelece o “não-descarte” da ciência de “tudo”, a saber: “Assim como um estudante de medicina interessado na saúde, vai levar em consideração tanto dietas e compleições quanto corpos, e não vai por isso achar que sua ciência se desmancha em várias disciplinas, um metafísico, interessado em entidades, vai considerar tudo aquilo a que a palavra “existe” se aplica, e não vai por isso achar que seu assunto se dissolveu.”
Entidades –
Substância e Acidente. Essas eram as formas que Aristóteles encontrou para dizer das coisas que originariamente “são” (subjazem ou servem de suporte para outras entidades) e das coisas que “são” por circunstância de outra entidade. Tudo o que há é uma substância ou um acidente.
Quais são, então, as substâncias/os itens que existem? Enumerá-las individualmente nos evocaria problemas de ordem temporal, uma vez que levaríamos toda uma vida para classificar e ainda assim estaríamos longe da infindável tarefa. Mas ao invés de enumerar entidades, podemos tentar por gênero. Assim, seria possível categorizar, em hierarquia de gênero, de acordo com seu enquadramento em determinado gênero (gato, mamífero, animal) e também em subespécies e subgêneros. Assim, supondo uma lista finita, haverá ao menos um item (tem de haver um, podendo haver qualquer número deles) que não estará subordinado a nenhum outro item.
Através da análise do que é conhecido como “categorias” na tradição aristotélica, é abordado uma definição clara sobre as características qualitativas de uma entidade: “Uma qualidade Q existe apenas na medida em que alguma substância tem o caráter Q.” (Qualidades são acidentes). Sustenta-se que existe uma “Paternidade” dos entes. Então, em geral, R apenas existe na medida em que uma substância está numa relação R com outra. Relações são acidentes. O que envolve a existência de F’s? Basta colocar “F” na sua categoria, C, e aplicar a explicação geral do que está envolvido na existência de C’s. Aristóteles demonstra essa via de acesso ao conhecimento por categorias, no entanto ele próprio não parece trilhar este caminho. Zeta sugere que há tantas categorias quantos sentidos ou maneiras de ser.
Talvez Aristóteles tenha notado, quase mil anos antes da idade moderna, que as categorias poderiam se tornar aporias ou simplesmente extensas demais para se trabalhar. Mas a maneira com a qual ele se desenvolve com as entidades derivativas – com acidentes – parece mais promissor. Aqui, para se desvelar o que está envolvido em F’s é necessário descobrir que tipo de coisas são F’s. Jonathan aqui exemplifica com os seguintes: O gelo é água solidificada – logo, existir gelo é a agua estar solidificada. Café da manhã é a primeira refeição do dia – logo, existir café da manhã é as pessoas comerem algo antes de qualquer outra coisa. Este método, contido no livro Eta, exprime a definição do que é um ser “F”, ao contrário das categorias que buscam inserir “F” à um conjunto de entes.
Cada um desses métodos que poderia ser caracterizado com método de “redução”, mas é preciso tomar cuidado com dois erros principais para tanto. Primeiro é que a “redução eliminativa”, como o nome já diz, elimina/reduz características de F aparente, para emancipa-lo ao domínio G real. Ora, num estudo das coisas que existem, não podemos dizer que tais coisas não existem. Platão e Aristóteles acreditavam em formas diferentes de “justiça”. Para o primeiro, justiça era eterna e independente das formas. Para o segundo, justiça era parasitária ou algo era justo na medida em que a substância continha “justiça”.
Em outras palavras, uma coisa não pode ser reduzida a outra se esta, por sua vez, possui características próprias e diferentes. E de outro modo, uma coisa não pode ser predicado ou causa de outra que tem como causa ela mesma. Então elas não estão sujeitas a esse tipo de objeção.
É nos livros Mi e Ni que se encontram os maiores esforços da redução ontológica, que então ocorre em seu tratamento dos objetos da matemática. Vale ressaltar que Aristóteles não está preocupado em desenvolver a linguagem matemática e tampouco analisar conceitos e operações matemáticas, o que fica bem evidenciado no trecho do livro Mi:
“Se os objetos da matemática existem, então eles têm de existir ou em objetos sensíveis ou separadamente dos objetos sensíveis; ou, se eles não existem de nenhuma dessas maneiras, então ou eles não existem ou eles existem de alguma outra maneira. Por conseguinte, o assunto de nossa discussão não será se eles existem, mas como eles existem.”
E completa:
“... é verdadeiro dizer, sem qualquer restrição, que os objetos da matemática existem e que eles possuem o caráter que os matemáticos lhes atribuem.”
Não se trata sobre a existência ou não dos objetos matemáticos, mas de que maneira existem. Substância, acidente, entidade derivativa...? Aristóteles parece estar certo de que, pela inexistência do adverso, de que são entidades derivativas, porém suas observações negativas não constituem prova de sua posição. De mesma forma que sua posição positiva é em acabamento vaga e o próprio filósofo não tenta reconstruir a aritmética usando como base sua tese sobre os objetos da ciência.
Aristóteles não possuía recursos para responder se, numa analogia com as ciências não matemáticas, o uso do adjetivo dos numerais é primário ou se os aritméticos falam apenas sobre objetos perceptíveis. E até que essas questões sejam enfrentadas, a ontologia da aritmética de Aristóteles continuará a ser apenas hipótese atraente.
Ao final do tópico IV, Jonathan Barnes dedica os trechos finais para trazer o princípio da não-contradição ligado aos acidentes (haja vista que o trecho final do livro os relaciona com a substância). Movimentos são entidades derivativas. De forma que a existência de movimentos reside no fato de haver movimentação em alguma substância. Não é portanto possível que uma substância esteja rápida e não-rápida ao mesmo tempo, pois “rápida” não pode convir ao mesmo tempo que não convêm à substância.
Ahhh, but now.. Wait a minute.. Forget everything I've said sofar. This changes everything.
auheuhae sem acesso ao drive também..
como faz pra deletar agora? =D

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